sexta-feira, 25 de março de 2016

Armadilhas para ursos

Somos a geração da desgraça, somos a geração sem futuro, o nosso único objectivo é beber umas cervejas à sexta-feira! Há algo melhor para fazer a uma sexta-feira nesta paródia? Somos aqueles que fogem do futuro, somos aqueles que gostam do presente. Admiro-me com a ignorância de uma boa parcela desta geração e talvez de mais algumas, que se iludem com tudo o que veem e que raramente leem, não aprendem, iludidos pela igreja, iludidos por jornais, iludidos pela televisão, iludidos por sites e páginas duvidosas na internet, o entretenimento de eleição é a imprensa cor de rosa! Que deleito para os governadores! Os anos aumentam e a única coisa que muda é o número das ilusões,  o conhecimento é deitado fora, e armadilhas destinadas para ursos são renovadas, e nem chegamos a acampar, elas estão prontas para nós nos nossos próprios sofás, talvez até sejam perfeitas para esta captura. Sou da geração dos perdidos, sou da geração de que todos se queixam, perdidos que se encontram entre sextas e sábados, e reconhecem a ilusão em que vivem, são a parcela contrária aqueles que se deixam iludir, não encontramos futuro aqui, as armadilhas perseguem-nos quando não caímos nelas, esperando que tropecemos nestas ilusões ditas todos os dias em visores, visores que nos pretendem dar ignorância e tirar-nos o nosso lado crítico, longe de quererem ouvir o que temos para dizer, eles não nos querem ouvir, eles são bons actores, e representam bem a sua preocupação entre telas e cortinas, mas o que eles realmente querem é o nosso silêncio e conformidade, ninguém gosta de quem reclama! Ainda mais quando o que reclamam lhes incomoda, isto, claro, iria provocar descontentamento para o país, país de paródia, ovelha do resto do rebanho, o que seria desta ovelha sem uma boa quantia de indivíduos com baba ao canto da boca a obedecer ?! Era tirar-lhe o pasto! E como eles detestam ervas daninhas! Irresponsáveis, sem preocupações, a ocupar espaço daqueles que queriam e não têm! Um guardanapo, para limpar o queixo, talvez seja necessária uma esfregona e um aviso de piso escorregadio.

terça-feira, 22 de março de 2016

Procura Mais Que Certa

O vento sopra,
Eu oiço-o.
As nuvens passam,
E eu vejo-as.
Mas queria agora ver algo diferente.
Algo que desperte a minha mente,
Algo nada certo ou coerente.
Queria talvez ver-te à minha frente...

Tentando encontrar descrição,
E deixando à beira a ilusão:
És um pensamento não descritivo,
Algo parecido ao irreal.
Assemelha-se assim a ti,
Um ser quase surreal.

Mas quando dei ao psicológico um fim,
A conclusão modificou-se...
Agora sei que és a face diante de mim.
E sei que nunca direi "Acabou-se".

C. Nunes

quinta-feira, 17 de março de 2016

Corrida com uma moça nova

Eu sou louca. Sou louca no momento em que me deixei apaixonar pela vida, quando conheci o querer de correr com ela de mão dada, como na infância fazia com a minha irmã mais velha, por tropeçar naquele pedregulho, e me levantar com o joelho sangrento, deixando o rasto da chaga daquela queda, e recolher do rasto o que de doloroso e benévolo sobrou dele. Sou louca por querer tanto, e não querer nada, por procurar o que é certo, num tempo incerto, por reconhecer e querer a Senhora vida, uma Senhora irónica e com um sentido de humor gigantesco, ninguém diria que ela me iria dar a dádiva da loucura, a loucura que todos censuram e fogem, mal sabem eles, que ela é mais querida de todas, que ela é o mais doce sabor da liberdade, eles sabem lá o que é ser louco num mundo calado, como eles se enganam ao esconder-se em recantos desta nova moça, eles perdem, perdem a imortalidade na nossa débil mortalidade, perdem a dança com a estranha insanidade no desconhecido, eles perdem tudo em vão, tudo por escolheram o mundo calado. Deixem-me então ser louca, e ser o barulho, entre risos partilhados, no conhecido que pretendo esquecer, de mão dada com a minha mais fiel companheira Loucura, que não me deixa por nada.

quinta-feira, 10 de março de 2016

As Boas Vindas

E a névoa aparece novamente,
Vai percorrendo as áreas funcionais,
Até que se transforma em cerrado nevoeiro,
Até que já ninguém consegue ver os sinais.

Eu e muitos mais,
não queremos fechar os olhos,
Mas é tão difícil não voar com os restantes pardais,
Quando a luz provém do sol e dos seus raios.

Pois então, vamos mantê-los abertos!
Mas vamos aceitar quem se senta no centro da mesa.
Provavelmente, deixar-nos-á boquiabertos...
"Ele está correto, tenho a certeza".

Dizendo isto muito baixinho,
Eu também fui sua aplaudente,
Então vamos tentar aceitá-lo com carinho,
Seja bem-vindo, Senhor Presidente!

C. Nunes

domingo, 6 de março de 2016

Alice viciosa

Vida de vícios. "Vou fumar o meu cigarrinho das 14h!", "Vou beber a minha cerveja das 22h!", linhas constantes que soam aos nossos ouvidos, corrompidos por uma sociedade suja, somos confrontados com uma série de vícios que nos tiram da realidade e nos tornam numa Alice, entre tantas outras, e nos abrem as portas para o País das Maravilhas, tal como outros, ou outras, também já estou manchada, não sou imune à sujidade que nos rodeia, corro em busca do buraco para o outro mundo, tantos corações imundos acompanhados de caras limpas, preparados desde do primeiro instante para passar pela Baixa-Chiado naquele submundo, mecanizados para a ignorância, é apenas concedido o suficiente, porque a tristeza e as verdades incomodam as "gentes", as "gentes" que estão demasiado ocupadas para ouvir os gritos mais profundos, a rotina é a mais aconselhada! "Não digas não, o Zé queria e não teve, és um sortudo!"dizem eles, uma produção de medo constante construído desde de tempos infinitos através de senhores com altos cargos em mosteiros distantes, levados ao moderno pelos senhores tão queridos da mãe natureza, aquela que grita e ninguém a ouve, os seus protestos são abafados por vozes de cobras e lobos que nos mastigam até à nossa senilidade, ignorando os gemidos entre os mortíferos dentes. Numa sociedade corrupta onde o mais honroso é aquele que obedece ao injusto, onde todos padecem interiormente, o melhor é não deixar a minha cerveja morrer e tentar ser contente. Um brinde às Alices.