sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Infância inocente






Quando dou por mim estou a criticar a sociedade em que vivo, a construir debates dentro da minha cabeça com homens de poder, que confesso, desprezo um bocado. Já não tenho a visão inocente da menina de seis anos, em que não via mal nenhum em um ovo kinder ser dois euros e meio, e uma bicicleta com rodinhas cento e tantos euros, que chorava e explicava elaboradamente como era importante ter estes bens materiais e dizia que todos os seus amigos já os tinham! Não compreendia a tristeza que os seus pais sentiam, que com o seu salário medíocre, não conseguiam dar-lhe estes bens indispensáveis para ela na altura, por serem explorados por uma sociedade suja e corrupta pelo poder e dinheiro. Ainda me lembro quando ficava contentíssima pela chegada da quadra natalícia, onde me colava à televisão a ver todos os anúncios de brinquedos velhos e novos, iludida por contos de fadas criados pelo dinheiro, que me cegavam e não me deixavam entender os verdadeiros valores do Natal, com as ilusões daquela caixa mágica que enganava aquela minha inocente infância, onde tudo o que importava era ter o maior número possível de brinquedos, porque aquela criança de seis anos era inocente, ela não percebia a tristeza, nem os esforços dos seus pais, que nunca parecia suficiente pelo que a televisão dizia. Maldita televisão, só dizes asneiras. Já não quero o ovo kinder.


Imagem: Luis Quiles

sábado, 14 de novembro de 2015

O Metro.


Encafuados dentro do metro que nem formigas, formigas que seguem a mesma travessia em nome da rotina diária, mas sem saber bem a sua funcionalidade, vejo caras diferentes mas com as mesmas expressões de sempre, expressões depressivas e zangadas com a vida, em que na altura de ponta gritam e reivindicam o seu direito de também caber no metro, apesar de já estar tudo de cara encostada à janela e a cheirar sovacos de estranhos, empurrões e brigas por um espaço neste transporte tão querido para ir para a sua morte, gordos e gordas roubam o lugar por já nem aguentarem um minuto em pé com tantos menus do McDonald's que engoliram, deixando velhinhos em pé que já nem aguentam com as próprias pernas e se queixam de dores nas costas. Uma vida humana que não se compreende, lutam todos os dias por o que nunca quiseram lutar, gritos por todos os lados, na direcção errada, revoltas mesquinhas por cinco minutos sentados. O metro. Tem muito que se diga.