quarta-feira, 4 de maio de 2016

Algo Vetorial

Sinto uma leve força a aproximar-se.
Como se puxada para um vácuo,
Achando que será algo inócuo,
Avanço com notificação de algum sofrimento,
Para aquele visível rodopio de sentimentos.

E como qualquer outra criatura,
Adapto-me ao meio.
Tão feio. Tão belo. Uma mistura.
Pois agora, a leve força que em tempos veio,
Aumenta de patamar e é algo que já dura.

A questão temporal também vinca,
Os fervorosos defeitos foram superados.
Já não é superficial, é interno e talvez permanente.
Ambos já estamos então embrulhados, 
Numa força que supera algo nunca superado até ao presente.

C. Nunes

Patinho feio

Este texto não é suposto ser bonito, é suposto mostrar uma realidade feia, e é impossível mostrar o feio com o bonito, ou então é apenas mais fácil mostrar o feio no seu mais puro estado, sem floreados, sem toques nem retoques. O feio é tão disforme e disperso que pertence a todos, e se não tens o feio em ti, alguém há de te o atribuir, ninguém é perfeito já dizia a minha mãe, e se por acaso alguém for, esse será o seu defeito, o humano não consegue lidar com o perfeito, o pior do humano aparece quando se apercebe do perfeito e se dá conta que está longe dessa tão querida qualidade. É sobre um lado feio do humano que eu quero escrever, o facto de a nossa essência maligna estar presente em todos os cantos do mundo, em todos os países, todas as cidades, e por todos os caminhos em diante, todos os dias os nossos olhos vêm pobreza ou escravidão, seja directamente ou indirectamente, o mais macabro é que nós ajudamos a esta pobre situação, eu não me excluo, infelizmente sei que mesmo não querendo já contribui fechando os olhos, somos estúpidos e egoístas, pelo simples facto de termos querido aquela t-shirt nova, porque a que estava na gaveta que comprámos o ano passado já estava fora de prazo e usar uma t-shirt duas vezes numa festa diferente podia dar má imagem, manchar a nossa reputação. Reputação limpa, mãos manchadas de sangue, aproveitar festas nos melhores trajes enquanto no outro lado do mundo escravizamos pelos nossos caprichos e tornamos países em grandes contentores de lixo, e não compensa por aqueles ténis novos de cento e tanto euros que custou apenas cerca de cinco euros a fabricar por uma criança de doze anos? Nós compramos e compramos, e a única coisa que enche é o nosso armário, as carteiras e os corações estão vazios, sempre a contar os tostões e a gritar com o coitado que estiver mais a jeito, e é assim, sem sequer nos apercebermos, cegos por luxos que nos tapam as emoções, que cometemos as maiores atrocidades, repetindo a história mais uma vez numa localidade diferente, entregamos a nossa liberdade e alegria de mão beijada a quem nos quer mal com um sorriso momentâneo proporcionado pela nova compra. É óbvio do que estou a falar, a verdade é que não gostamos do feio, ele é custoso de se ver. Fechemos os olhos mais uma vez, é mais fácil dizem eles.