Quando dou por mim estou a criticar a sociedade em que vivo, a construir debates dentro da minha cabeça com homens de poder, que confesso, desprezo um bocado. Já não tenho a visão inocente da menina de seis anos, em que não via mal nenhum em um ovo kinder ser dois euros e meio, e uma bicicleta com rodinhas cento e tantos euros, que chorava e explicava elaboradamente como era importante ter estes bens materiais e dizia que todos os seus amigos já os tinham! Não compreendia a tristeza que os seus pais sentiam, que com o seu salário medíocre, não conseguiam dar-lhe estes bens indispensáveis para ela na altura, por serem explorados por uma sociedade suja e corrupta pelo poder e dinheiro. Ainda me lembro quando ficava contentíssima pela chegada da quadra natalícia, onde me colava à televisão a ver todos os anúncios de brinquedos velhos e novos, iludida por contos de fadas criados pelo dinheiro, que me cegavam e não me deixavam entender os verdadeiros valores do Natal, com as ilusões daquela caixa mágica que enganava aquela minha inocente infância, onde tudo o que importava era ter o maior número possível de brinquedos, porque aquela criança de seis anos era inocente, ela não percebia a tristeza, nem os esforços dos seus pais, que nunca parecia suficiente pelo que a televisão dizia. Maldita televisão, só dizes asneiras. Já não quero o ovo kinder.
Imagem: Luis Quiles