segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Bomba relógio

Eu acho que estou avariada, uma máquina do sistema que extraviou pelo caminho, perdida nas regras, nas exigências, nas expectativas, já não aguento as perguntas "Já decidiste o que vais fazer para o resto da tua vida?", "Não? Tic-Toc, olha o relógio", "Temos aqui uma doutora! Que orgulho!". Tenho 20 anos, a idade limite para decidir o meu sucesso, o que quero ser, sem saber se quer  responder à pergunta"Quem és tu?", tenho uma bomba relógio na cintura, onde os fios percorrem cada milímetro do meu corpo e me ameaçam a cada segundo que envelheço de uma possível explosão. 20, duas décadas, avariada, a tentar fugir de uma rotina que acho estupida, eu não quero acordar todos os dias às 6 horas da madrugada com sentimentos de angústia e arrependimento por não ter escolhido o outro caminho, que desconheço, vestir a roupa que me é exigida por um trabalho enfadonho, que me deixa infeliz e me faz gritar com o rapaz que está a vender roupa naquela loja que faz milhões todos os anos, tudo isto por virei na rua errada quando tinha 20 anos. Eu não quero ser a bomba relógio, não quero fazer corridas contra o tempo, onde o destino já decidiu o vencedor, e para ser sincera não vejo nenhum pódio ao longe, e assim pergunto-me por quanto tempo mais posso eu fugir ao inevitável? Quanto tempo até enlouquecer com este som que me avaria mais a cada dia que passa? Não fui preparada para fazer uma decisão destas, sinceramente, não sei se alguém foi, ao longo da nossa vida aprendemos várias coisas, umas mais uteis que outras, secalhar perdi esta parte da matéria, bom, secalhar o melhor mesmo, é ir aprender a desarmar bombas.